Você já se pegou pensando que poderia ter feito melhor mesmo depois de se esforçar ao máximo? Eu escuto isso todos os dias no consultório. A sensação de que nada é suficiente se mistura com um cansaço que não é só do corpo. É um cansaço da mente, de carregar uma régua invisível que está sempre mais alta do que conseguimos alcançar. Se você se reconhece aqui, respire comigo. Não há nada de “errado” em você. Há padrões que dá para entender, cuidar e transformar.

Quero te acompanhar, com calma, por três perguntas que costumo usar com meus pacientes: o que é uma autocrítica saudável, de onde vem essa voz que cobra tanto e como mudamos o jeito de conversar com nós mesmos para que a cobrança vire incentivo. No fim, te deixo um plano simples para os próximos dias e um convite para conversarmos pessoalmente, caso faça sentido.

Autocrítica saudável x autocrítica que machuca

Autocrítica saudável é aquela que ajuda a ajustar a rota. Ela olha para um erro e diz que houve um aprendizado. A versão que machuca faz o contrário: transforma qualquer tropeço em prova de incapacidade. Ela desconsidera contexto, ignora limitações humanas e recusa elogios.

O efeito é um ciclo de ansiedade, procrastinação por medo de falhar e dificuldade de reconhecer conquistas.

Quando esse padrão toma conta, a pessoa passa a duvidar do próprio valor, dorme mal, adia decisões importantes e se sente sempre em dívida. Não é frescura. É um jeito de pensar e se tratar que foi aprendendo a funcionar assim para lidar com o mundo. E se foi aprendido, pode ser reaprendido.

De onde vem essa voz tão dura

A psicanálise nos ajuda a entender que carregamos vozes internas formadas ao longo da vida. Às vezes é a eco de uma infância com muitas comparações. Às vezes é a cultura da perfeição que respira produtividade vinte e quatro horas por dia. Às vezes é o medo de não ser aceito e, por isso, a tentativa de “merecer” o lugar que ocupamos.

Origem da autocobrança em excesso.

Gosto de propor um pequeno exercício: quando perceber uma crítica dura na cabeça, tente nomear de quem parece ser essa voz. Um professor exigente? Um cuidador impaciente? O padrão de uma empresa que premiava apenas quem nunca errava? Só de identificar a origem, já deixamos de tomar essas frases como verdades absolutas. Elas viram hipóteses a serem examinadas.

Como a TCC e a DBT mudam o diálogo interno

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) parte de algo simples e poderoso: pensamentos influenciam emoções e comportamentos. Quando a autocrítica domina, os pensamentos automáticos chegam rápido demais. Eu deveria dar conta de tudo. Qualquer falha prova que eu não sirvo.

A TCC ensina a colocar esses pensamentos no papel, checar evidências, formular respostas mais equilibradas e, principalmente, fazer pequenos testes na vida real. Aos poucos, você percebe que dá para errar sem se desmontar por dentro, que dá para terminar algo “bom o suficiente” e seguir adiante.

Já a Terapia Comportamental Dialética (DBT) acrescenta duas peças fundamentais quando a autocrítica vem acompanhada de emoções intensas: regulação emocional e habilidades de atenção plena. Em vez de brigar com a emoção, a DBT convida a reconhecê-la, nomeá-la e escolher uma resposta eficaz.

Práticas breves de mindfulness, tolerância ao mal-estar e comunicação assertiva ajudam a sair do piloto automático do tudo ou nada. Unir TCC e DBT costuma ser um caminho muito potente para trocar a rigidez pela flexibilidade sem perder o foco nos resultados.

Eu posso te ajudar!

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Um guia prático para transformar cobrança em motivação

Não existe fórmula mágica. Existe prática gentil e consistente. Trago abaixo um roteiro que adapto com os pacientes. Você não precisa fazer tudo de uma vez. Escolha dois pontos para a semana e observe o que muda.

1. Troque o rótulo pelo fato

Quando vier o pensamento “sou um fracasso”, tente escrever apenas o que aconteceu. Perdi um prazo porque calculei mal o tempo. Fato é diferente de rótulo. Fato orienta ação. Rótulo paralisa.

2. Use a pergunta que abre espaço

Eu falaria isso para uma amiga na mesma situação? Se a resposta for não, reformule a frase até que você ofereça a si mesmo o mesmo respeito que ofereceria a ela.

3. Faça um diário de três linhas

Situação, pensamento automático, resposta útil. Resposta útil não é positiva demais, é realista. Eu queria ter feito diferente, mas aprendi o que ajustar.

4. Em vez de metas gigantes, degraus visíveis

Transforme um objetivo amplo em micro-entregas com início e fim claros. Ao concluir um degrau, marque, comemore, respire. O cérebro aprende com reforço, não com castigo.

5. Crie um protocolo de pós-erro

Três perguntas simples: o que aconteceu, o que aprendi, qual é o próximo passo pequeno. Nada de manchetes internas como sempre erro. Apenas próximos passos.

6. Proteja sua energia

Sono, pausas curtas ao longo do dia, movimento do corpo. Quando estamos esgotados, a mente fica mais rígida e crítica. Cuidar do básico não é luxo, é parte do tratamento.

7. Diminua gatilhos de comparação

Silencie notificações que disparam comparação automática, reduza a exposição a conteúdos que te colocam num campeonato invisível. Use as redes de forma intencional, não como medida de valor.

8. Experimentos comportamentais contra o perfeccionismo

Entregue algo com noventa por cento de qualidade e observe o resultado real. Na semana seguinte, teste oitenta e cinco por cento em uma tarefa de baixo risco. A maioria das catástrofes previstas não acontece.

9. Rede de apoio combinada

Escolha uma pessoa de confiança e explique como pode te ajudar nos dias difíceis. Às vezes é lembrar de beber água e dar uma volta no quarteirão. Às vezes é te lembrar do que já foi feito.

E no trabalho, por que a cobrança derruba a produtividade

A autocrítica excessiva não costuma aumentar a entrega. Ela aumenta o medo de falhar. A partir daí cresce a procrastinação, o retrabalho e a sensação de estar sempre atrasado.

Se você lidera pessoas, vale pensar em acordos claros, feedback contínuo e metas possíveis. Reconhecer progresso é combustível para motivação saudável. Comparações internas e metas inalcançáveis alimentam a mesma voz que tenta te convencer de que nada basta.

Quando é hora de buscar ajuda?

Se a autocrítica tem piorado seu sono, feito você evitar situações importantes, diminuído sua autoestima ou aumentado crises de ansiedade, a terapia pode ser um apoio decisivo. Em TCC e DBT, estruturamos um plano com objetivos, práticas semanais e acompanhamento de progresso.

Em alguns casos, trabalho em conjunto com psiquiatras quando há indicação de avaliação medicamentosa. Cuidar disso não é sinal de fraqueza. É um gesto de responsabilidade consigo mesmo.

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Para a sua semana: um plano simples

  • Hoje: escolha um momento do dia para uma pausa de dois minutos de respiração lenta.
  • Amanhã: escreva um diário de três linhas após uma situação incômoda.
  • Até sexta: entregue uma tarefa sem polir além do necessário e observe o resultado.
  • No domingo: revise o que deu certo sem desqualificar. Apenas reconheça.

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