A procrastinação, adiar tarefas, mesmo sabendo que isso pode causar estresse ou prejuízo, é uma experiência muito comum. Muitas pessoas, em diferentes contextos (trabalho, estudos, tarefas domésticas, saúde), percebem que constantemente ficam adiando ações importantes, mesmo quando realmente querem realizá-las. Esse adiamento pode gerar culpa, autocobrança, ansiedade, prejuízo de resultados, e até afetar saúde mental e física.
Para compreender e lidar com a procrastinação, é útil vê-la não apenas como “falta de vontade”, mas como um fenômeno que envolve cognições (pensamentos), emoções, autorregulação comportamental e ambiente.
Aqui, exploramos o que a ciência mostra, como duas abordagens terapêuticas, TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) e DBT (Terapia Comportamental Dialética), podem ajudar, quando procurar psicoterapia, e várias estratégias práticas e contextualizadas para o dia a dia.
O que sabemos pela ciência
Natureza multifacetada da procrastinação
Estudos indicam que procrastinação tem componentes emocionais, cognitivos e comportamentais. Por exemplo, a procrastinação acadêmica está ligada a baixos níveis de autocontrole, a traços como conscienciosidade baixa (no modelo dos Cinco Grandes) e a tendências à impulsividade e ao afeto negativo. juniperpublishers.com+2ScienceDirect+2
Procrastinação como falha de autorregulação e regulação emocional
Muitas vezes adiamos porque tarefas provocam desconforto, tédio, medo de fracasso ou perfeccionismo. Adiar traz alívio emocional curto prazo, mas gera problemas no médio ou longo prazo. A capacidade de regular emoções, tolerar desconforto ou adiar gratificação está fortemente relacionada à capacidade de não procrastinar. juniperpublishers.com+2ScienceDirect+2
Eficácia da TCC
Vários ensaios clínicos e meta-análises mostram que intervenções baseadas em TCC reduzem significativamente os níveis de procrastinação. Por exemplo, um estudo randomizado controlado com adolescentes demonstrou que sessões de TCC reduziram procrastinação, burnout acadêmico, ansiedade de teste, e melhoraram desempenho escolar. BioMed Central
Outro estudo (“Treating Procrastination Using CBT: group vs. Internet CBT”) mostrou tamanhos de efeito grandes (Cohen’s d ≈ 1,2–1,3) para procrastinação, comparando TCC em grupo com TCC guiada pela internet, com manutenção dos ganhos no acompanhamento de 6 meses. Lusófona University
Intervenções focadas na regulação emocional e motivação
Pesquisas apontam que treinar habilidades de regulação emocional (por exemplo, reavaliação cognitiva, tolerância ao desconforto) reduz procrastinação. ScienceDirect+1
Meta-análises também identificam que intervenções de auto-regulação, motivacionais, e de uso de recursos pessoais (forças, valores) têm efeito consistente para diminuir adiamentos.ScienceDirect+1
O papel do ambiente e pequenas práticas comportamentais
Estratégias como controle dos estímulos (reduzir distrações), dividir tarefas grandes em etapas pequenas, usar rotinas ou lembretes, e técnicas de gerenciamento de tempo são frequentemente componentes essenciais nas intervenções que funcionam.

Eu posso te ajudar!
No atendimento psicológico online e presencial, auxilio você a construir uma vida com propósito, desenvolvendo seu domínio emocional e uma rotina eficiente.
TCC e DBT: como funcionam e como ajudam
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) parte do princípio de que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos. No caso da procrastinação, é comum surgirem crenças automáticas como “se não fizer perfeito, é melhor não fazer” ou “vou esperar estar no humor certo”. A TCC ajuda justamente a identificar e modificar esses padrões, substituindo-os por pensamentos mais realistas e funcionais.
Além do trabalho com as crenças, a TCC também oferece ferramentas práticas para organizar a rotina. O planejamento de metas claras e alcançáveis (como no método SMART) dá direção ao dia a dia. Outra estratégia bastante eficaz é dividir tarefas maiores em etapas menores, reduzindo a sensação de sobrecarga.
O acompanhamento do próprio comportamento também desempenha um papel importante: ao registrar quando e por que se procrastina, a pessoa passa a enxergar melhor seus gatilhos e consegue pensar em soluções específicas. Há ainda técnicas de ativação comportamental, que incentivam a começar mesmo diante do desconforto, e exercícios de reestruturação cognitiva, voltados para desafiar pensamentos distorcidos que alimentam a inércia.
Já a Terapia Comportamental Dialética (DBT), embora tenha sido criada para tratar dificuldades emocionais mais intensas, traz recursos muito úteis para quem procrastina, especialmente quando emoções como ansiedade, medo de falhar ou perfeccionismo estão no centro do problema. Um dos pilares é o mindfulness, que ensina a observar pensamentos e sentimentos sem julgamento, reduzindo a tendência de fugir deles através da procrastinação. Outro é a chamada tolerância ao sofrimento, que fortalece a capacidade de lidar com desconfortos sem deixar que eles paralisem.
A DBT também propõe a técnica da ação oposta: quando a emoção pede para evitar, o exercício é fazer justamente o contrário, ainda que surja o medo ou a resistência inicial. Isso ajuda a construir resiliência e quebrar o ciclo da evitação. Por fim, as práticas de regulação emocional apoiam o reconhecimento, a nomeação e a modulação das emoções, permitindo que a pessoa não fique presa em estados de ruminação ou sensibilização excessiva.
O papel da psicoterapia e quando buscar ajuda
Mesmo com boas técnicas à disposição, nem sempre é fácil aplicá-las sozinho. Muitas vezes a procrastinação está enraizada em questões emocionais mais profundas, como ansiedade, depressão, baixa autoestima ou padrões rígidos de autocrítica. Quando ela começa a trazer consequências sérias — perda de oportunidades, dificuldades acadêmicas, problemas profissionais ou impactos na vida pessoal — a psicoterapia pode ser um passo essencial.
Um terapeuta pode ajudar a identificar as causas específicas da procrastinação, selecionar as ferramentas mais adequadas (seja da TCC, da DBT ou de uma combinação de abordagens) e acompanhar o progresso de forma estruturada. Esse acompanhamento externo traz responsabilidade, adaptação às necessidades individuais e maior clareza para transformar pequenas mudanças em resultados duradouros.
Estratégias práticas para o dia a dia
Aqui vão dicas concretas, fáceis de aplicar, com contexto realista, para quem quer “dar o primeiro passo” e ir avançando:
Estratégia | Como aplicar no cotidiano | Por que funciona / qual componente está sendo ativado |
---|---|---|
Planejamento diário | No começo de cada dia (ou noite anterior), escolher 2–3 tarefas importantes que precisam ser feitas. Priorizar. | Ajuda a focalizar; reduz “sobrevivência” diária (decidir no momento), diminui o peso do que está por fazer. |
Dividir tarefas grandes | Se tarefa parece enorme (“escrever relatório”, “estudar para prova inteira”), divida em subtarefas (“pesquisar conteúdos-chave”, “fazer esquema”, “redigir primeiro rascunho”). Coloque prazos pequenos. | Reduz sensação de sobrecarga, evita paralisia antecipatória. |
Uso da técnica Pomodoro | Trabalhar por blocos de 25 min focados, com pausas de 5 min. Após 4 blocos, fazer pausa mais longa. | Ajuda concentração, diminui fadiga, dá micro-recompensas, cria urgência. proactivitylab.com+1 |
Controle de estímulos / minimizar distrações | Identificar quais são as distrações mais fortes (telefone, redes sociais, notificações). Ajustar o ambiente: silenciar notificações, app de bloqueio, espaço limpo, separação de ambiente de descanso / ambiente de trabalho. | Reduz o “custo de inibição” de distrações; menos tentação = menos adiamento automático. |
Estabelecer recompensas | Depois de completar uma subtarefa ou bloco de trabalho, permitir-se algo prazeroso (pausa, lanche, conversar, etc.). | Reforço positivo ajuda a reforçar o hábito de ação. |
Autorreflexão / auto-monitoramento | Manter um registro simples: quando procrastinei no dia, por que motivo (emoção, distração, incerteza, perfeccionismo), o que fiz para retomar. | Torna consciente o padrão, possibilita intervenções específicas; permite ver progresso. |
Técnicas de regulação emocional | Quando aparecer ansiedade ou medo ante tarefa, praticar respiração, mindfulness, noticing do que está sentindo (nomear a emoção), usar ação oposta (fazer a tarefa mesmo sentindo desconforto). | Permite que emoções não dominem o comportamento; reduz adiamentos motivados por evitação. |
Auto-compaixão | Em vez de se culpar: reconhecer “Estou adiando, isso é difícil pra mim”, “Isso não me define”, permitir-se errar e voltar – tratar-se como trataria um amigo. | Ajuda a reduzir a ruminação, culpa, vergonha, que muitas vezes alimentam mais procrastinação. |
Time blocking / alocação de tempo | Separar no calendário momentos para tarefas específicas, marcando blocos de tempo (“das 9 às 10 estudar matemática”, “das 15 às 16 responder emails”). | Força compromisso, reduz procrastinação por indecisão ou adiamento. |
Accountability / parcerias externas | Compartilhar metas ou prazos com alguém (amigo, colega de trabalho, mentor). Ter check-ins. Pode trabalhar “junto” à vista de outro (body doubling) – mesmo que remotamente. | Responsabilização externa aumenta a motivação, cria “pressão suave” saudável. |
Possíveis desafios e como lidar
- Perfeccionismo / medo de falhar: muitas vezes esperamos ter condições ideais para começar (“quando eu estiver mais inspirado”, “quando tiver tudo organizado”). Realidade: não vai estar perfeito. Começar com o mínimo, ajustar depois.
- Desmotivação / pouco valor percebido: às vezes adiamos porque não vemos clareza no propósito da tarefa. Conectar a tarefa a seus valores pessoais, metas de longo prazo. Por que isso importa pra mim?
- Cansaço, saturação: se estiver sobrecarregado, raramente conseguirá manter produtividade alta. Precisa de pausas, sono adequado, atividades de recuperação.
- Ambiente caótico ou pouco suporte: adaptar ambiente com o que for possível, procurar suporte externo (psicoterapia, grupos, mentoria).

Eu posso te ajudar!
No atendimento psicológico online e presencial, auxilio você a construir uma vida com propósito, desenvolvendo seu domínio emocional e uma rotina eficiente.