Muitas pessoas chegam à terapia com a expectativa de que o progresso será linear. Imaginam que, ao aprender novas habilidades e compreender melhor suas emoções, não voltarão a enfrentar comportamentos antigos. Na prática, a experiência clínica mostra algo diferente. O processo terapêutico, especialmente na Terapia Dialética Comportamental (DBT), se desenvolve em ciclos. Há avanços, estabilidade, tropeços e novos recomeços. Isso não significa falha ou falta de compromisso. É parte natural da mudança.

A DBT reconhece essa realidade desde a sua concepção. A abordagem foi criada para pessoas que lidam com emoções intensas e padrões comportamentais complexos, muitas vezes presentes há anos. Por isso, a recaída não é vista como algo que invalida o progresso, mas como um momento que fornece informações importantes sobre o que ainda precisa de cuidado, prática e suporte.

Neste post, vamos explorar por que recaídas são comuns no tratamento com DBT, como identificá-las, o que fazer quando acontecem e como entender que elas fazem parte da vida, não apenas da terapia.

Por que a recaída é algo esperado na DBT

A DBT trabalha com um princípio dialético fundamental: duas coisas podem ser verdade ao mesmo tempo. Você pode estar fazendo o melhor que consegue hoje e, ao mesmo tempo, haver espaço para mudança. A recaída aparece dentro dessa perspectiva. Ela mostra que você está tentando, aprendendo, experimentando o novo e, inevitavelmente, às vezes voltando ao antigo.

Um dos pilares da DBT é o desenvolvimento de novas habilidades para lidar com emoções intensas. Essas habilidades exigem prática contínua, especialmente em momentos de maior estresse. Quando a pessoa se vê num contexto difícil, é possível que, por hábito ou por exaustão emocional, ela recorra a comportamentos anteriores, mesmo depois de meses de progresso.

O objetivo da terapia não é impedir que isso aconteça de forma absoluta, e sim ajudar o paciente a reconhecer o que está acontecendo, interromper o ciclo mais cedo e aplicar estratégias para se recuperar.

Recaídas fazem parte da vida, não apenas da terapia

Mesmo fora do contexto clínico, recaídas são parte do cotidiano de qualquer pessoa. Quem tenta mudar a forma de se alimentar pode voltar a padrões antigos em períodos de estresse. Quem planeja organizar melhor a rotina pode perder o ritmo quando a vida fica mais exigente. A curva da mudança raramente é linear.

Ilustração recaidas.

Na DBT, esse entendimento serve para diminuir o peso da autocobrança. Quando há a crença de que uma recaída representa fracasso, aumenta a chance de desânimo, vergonha ou desistência. Quando a pessoa entende que recaídas acontecem e que são trabalháveis, ela passa a olhar para o episódio com mais curiosidade do que julgamento. Isso permite analisar o que funcionou antes, o que deixou de funcionar agora e quais ajustes podem ajudar no futuro.

Quais são os principais fatores que levam a uma recaída?

Embora cada pessoa tenha sua história e seus padrões, algumas condições aparecem com frequência no processo terapêutico.

1. Estressores acumulados

Quando várias situações desafiadoras acontecem ao mesmo tempo, a capacidade de regulação emocional diminui. A pessoa pode se sentir sobrecarregada e, sem perceber, recorrer a comportamentos antigos que trazem alívio imediato, mesmo que prejudiquem a longo prazo.

2. Falta de prática das habilidades

As habilidades da DBT funcionam como qualquer aprendizado: exigem prática para se tornar disponíveis na hora do estresse. Quando a pessoa passa um período sem utilizá-las, é comum que se sinta menos preparada para lidar com emoções intensas.

3. Contextos que lembram experiências passadas

Certos ambientes, conversas ou relações podem ativar memórias emocionais. Ao reviver sensações antigas, a pessoa pode repetir comportamentos que já estavam mais controlados.

4. Cansaço emocional ou físico

Quando o corpo está esgotado, o acesso a estratégias saudáveis diminui. Problemas de sono, excesso de demandas ou pouca recuperação ao longo da semana podem favorecer recaídas.

5. Expectativas irreais sobre o próprio progresso

Quando o paciente entende que precisa “fazer tudo certo” para a terapia funcionar, cada pequeno deslize parece um sinal de regressão. Essa interpretação aumenta a chance de abandonar habilidades justamente quando seriam mais úteis.

Psicóloga Yasmim Carvalho.

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Como saber se a terapia está fazendo efeito?

Essa dúvida é comum, especialmente quando a pessoa passa por recaídas. É importante lembrar que o efeito da terapia não se mede pela ausência de dificuldades, e sim pela maneira como você responde a elas.

Alguns indicadores mostram progresso de forma mais realista.

1. O tempo de recuperação diminui

Mesmo que a recaída aconteça, a pessoa percebe que consegue se reorganizar mais rápido. Retoma habilidades, busca apoio ou identifica sinais de alerta com mais facilidade.

2. A intensidade dos comportamentos-problema reduz

Os episódios podem acontecer com menos frequência, menos gravidade ou durar menos tempo. Pequenas mudanças acumuladas ao longo dos meses são sinais concretos de evolução.

3. A pessoa se torna mais consciente dos próprios gatilhos

Reconhecer pensamentos, emoções e situações que antecedem o comportamento já é parte importante da mudança. A DBT trabalha muito com esse tipo de consciência.

4. As habilidades passam a fazer parte da rotina

Técnicas de mindfulness, estratégias de regulação emocional, exercícios de tolerância ao desconforto e habilidades de comunicação se tornam mais acessíveis no dia a dia.

5. O diálogo interno se torna menos crítico

Com o tempo, o paciente aprende a olhar para si com mais validação e menos julgamento, algo central na DBT.

Esses progressos podem coexistir com recaídas. Eles não se anulam. Pelo contrário, mostram que a mudança está acontecendo de forma gradual e consistente.

Quais são os gatilhos para recaídas?

Gatilhos são fatores que, quando presentes, aumentam a probabilidade de comportamentos que a pessoa está tentando mudar. Nem sempre são óbvios. Por isso, a DBT trabalha com a análise detalhada de eventos, emoções, pensamentos e respostas.

Alguns gatilhos comuns incluem:

• Discussões ou conflitos interpessoais.
• Situações que despertam medo de abandono ou rejeição.
• Falta de rotina, sono irregular ou excesso de demandas.
• Sentimentos de fracasso ou inadequação.
• Perdas, mudanças bruscas ou momentos de transição.
• Sensação de vazio, tédio intenso ou desmotivação.
• Lembranças de experiências traumáticas ou contextos associados a elas.

O mais importante é que cada pessoa aprenda a mapear seus próprios gatilhos, reconhecendo sinais iniciais que indicam que algo está saindo do equilíbrio.

O que fazer quando acontece uma recaída?

A DBT oferece caminhos concretos para lidar com recaídas de forma realista e compassiva. O objetivo não é eliminar o episódio, e sim aprender com ele.

Aceitar o que aconteceu sem julgamento

Aceitação radical, na DBT, é reconhecer a realidade tal como ela é no momento. Isso não significa concordar com o comportamento, mas evitar entrar no ciclo de culpa e autocrítica que impede o aprendizado.

Ser honesto consigo e com o terapeuta

A terapia funciona melhor quando você pode falar com clareza sobre o que ocorreu. Essa abertura permite ajustar estratégias e reforçar habilidades que precisam de mais prática.

Revisar o caminho que levou à recaída

A análise em cadeia é uma ferramenta da DBT que ajuda a mapear gatilhos, emoções e pensamentos que antecederam o comportamento. Ela revela pontos de intervenção e ajuda a evitar episódios futuros.

Recuperar habilidades que funcionaram antes

Quando você entende o que ajudou em momentos anteriores, torna-se mais fácil reconstruir a estabilidade. Isso envolve lembrar do que permitiu alcançar metas passadas e como essas habilidades podem ser retomadas agora.

Identificar pequenos passos possíveis

Em vez de tentar “resolver tudo”, a DBT incentiva mudanças graduais. Pequenos passos consistentes fortalecem a sensação de capacidade e ajudam a pessoa a retomar o equilíbrio emocional.

O papel da prevenção e da manutenção

Um aspecto importante do tratamento é desenvolver estratégias de prevenção. Isso envolve reforçar habilidades mesmo nos períodos de estabilidade, quando a pessoa sente que está “bem”. Manter esse treino ajuda o cérebro a acessar essas habilidades com mais rapidez nos momentos difíceis.

A manutenção inclui observar sinais de alerta, ajustar a rotina, fortalecer a rede de apoio e revisar habilidades aprendidas. Esses movimentos não impedem recaídas por completo, mas reduzem sua intensidade e facilitam a recuperação.

Psicóloga Yasmim Carvalho.

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